Sexualidade não é uma questão de idade

O Brasil é um país das contradições – por um lado conhecido no exterior como o país do sexo e do futebol, mas o Brasil tem grandes preconceitos em relação a sexualidade. Ao mesmo tempo que falamos abertamente sobre comunidades e direitos LGBT+, temos cantoras como Pablo Vitar e outras, há enorme preconceito entre as pessoas de se falar sobre sexo, ou ainda de modo mais contrastante, no país da sexualidade, sexo é coisa de jovens. Num país como este, pessoas de idade que fazem sexo são vistas mais como assanhadas”, “indecentes”, mas nunca como indivíduos explorando de forma ampla sua sexualidade como seria o normal para qualquer população madura.

A cerca do sexo, no Brasil há certas populações que se encontram à margem, como, idosos (você consegue imaginar sua vó fazendo amor?), deficientes físicos (cadeirantes fazendo sexo), pessoas com câncer entre outros grupos que são colocados à margem da sexualidade humana considerada “normal”. Mas vou lhes dar uma notícia IMPACTANTE – isto está ERRADO! Sexo é a coisa mais democrática do ser humano. Enquanto seja consensual, independe da idade, em especial a idade o sofistica, eventualmente o torna até mais rebuscado, talvez mais apimentado ou mais aventureiro, mas certamente jamais o abafa.

O sexo para o homem ou para a mulher é como as bonecas matrioscas – dentro de um homem de 65 anos existe um outro de 50, um de 40, um de 30, um de 20… o mesmo vale para a mulher. A pessoa não deixa de existir porque envelhece – ao contrário, como o vinho – mais velha, mais sofisticada. Claro que a idade adiciona aspectos específicos que modificam a sexualidade que discutirei adiante, mas é fundamental que fique claro uma coisa: devemos quebrar o tabu de que a vovozinha não faz sexo: mentiram pra você quando disseram que o lobo mau comeu a vovozinha… o verbo comeu não estava se referindo ao sentido de alimentar-se de…

A seguir , vou falar sobre algumas alterações fisiológicas , ou seja, normais e esperadas que ocorrem com o envelhecimento, tais como: necessidade de maior estímulo para obtenção de uma ereção , maior estímulo para que haja uma boa lubrificação vaginal, as contrações que ocorrem no momento do orgasmo podem se tornar mais fracas , e na mulher podem até ser dolorosas, o período entre uma relação sexual e outra – que chamamos de período refratário – aumenta podendo durar semanas , dentre outras alterações . Parecem muitas alterações não é? Mas são alterações que quando discutidas e explicadas às pessoas durante seu processo de envelhecimento se tornam essenciais para evitar que pensem que está ocorrendo algo diferente com elas, algo fora do normal ou que estão doentes. A maioria das alterações não irá representar nenhuma mudança na satisfação sexual do casal que está envelhecendo junto. Eles continuarão desfrutando da vida sexual e descobrindo outras formas de explorar a sexualidade e o sexo penetrativo passa a não ser o foco nesta fase da vida. Preocupações com a performance sexual não se torna o foco e os casais passam a explorar-se de maneira madura, sofisticada, com toda a bagagem que os anos vividos lhe deram.

Aventurar-se na vida sexual sem medos, preconceitos e permitir-se explorar universos talvez não explorados e nem vividos na juventude pode ser uma boa vivência para esse momento tão cheio de significados da vida.

Marina Scafuri , Ginecologista e Terapeuta Sexual, foi nossa entrevistada no Programa Fortaleza 6.0, na Rádio Tempo, 103.9, no dia 08 de fevereiro de 2020.

Ouça o programa na íntegra no podcast:

 

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O Programa Fortaleza 6.0 tem transmissão ao vivo, todos os sábados, das 10 às 11horas. A programação promove ações do projeto Fortaleza Cidade Amiga do Idoso; entrevistas com profissionais que trabalham em prol do envelhecimento saudável e conversas com idosos que são exemplos por saberem conduzir as suas vidas após certa idade com tanta vitalidade, autonomia, disposição e alegria de viver.