Por Julyanna Santos 07/01/2021
- Ouça este conteúdo
Você já se sentiu cobrado a estar sempre bem, feliz e disposto? Essa cobrança te machuca, te irrita e te cansa? Você, provavelmente, está sentindo os efeitos da positividade tóxica. O conceito, que tem sido amplamente debatido, descreve um novo fenômeno: a negação dos sentimentos ruins e a exigência de que as pessoas devem sempre estar bem.
Potencializado pelas Redes Sociais e difundido como ideal de vida, a positividade tóxica promove efeitos devastadores na psique. Bloquear ou ignorar emoções “negativas” pode ter consequências para a saúde.
O Portal Fortaleza Amiga do Idoso conversou com a cearense Érika Maracaba, psicóloga com atuação clínica, que cunhou o termo “positividade tóxica” em um artigo escrito para um site de notícia; o texto ganhou grande repercussão e Érika tornou-se a principal difusora do conceito.
“O que vemos é que felicidade/positividade é vista como um status. Observava na minha prática clínica que quanto mais as pessoas ‘atuavam’ como felizes, na verdade, elas estavam infelizes, em sofrimento psíquico. As pessoas começam a acreditar ser possível alcançar uma felicidade ininterrupta e isso gera culpa; você sente-se um fracassado, afinal a lógica social ´exige´ que você esteja sempre bem. ”
Efeitos da positividade tóxica
As consequências para a saúde podem ser graves. Érika elenca os principais:
- Aumento do isolamento de quem está em sofrimento, inviabilizando a dor e os sentimentos que são comuns e normais ao indivíduo;
- Tabu em relação ao sofrimento e uma categorização (sentimentos bons e ruins; sentimentos permitidos e não permitidos);
- A falta de reconhecimento dos sentimentos ruins, pois eles passam a denotar fracasso; então, por exemplo, tristeza e insatisfação não são “trabalhadas”, deixando as pessoas mais imaturas emocionalmente, sem ferramentas para resolução dos seus problemas.
Para Érika, a positividade tóxica tem aumentado os transtornos mentais e enfraquecido os laços sociais: “por exemplo, se você não legitima uma situação de insatisfação, você continua insistindo em um ´plano de sucesso pessoal’; se não temos a sabedoria para entender o que é insustentável – se silenciamos isso – como estaremos aptos a mudar os planos? As trajetórias? A nos reinventar?”
Envelhecer com saúde mental
É importante que ainda na fase da juventude, as pessoas vivenciem outros tipos de experiência, que não seja apenas o ser produtivo, em um ambiente competitivo. Não à toa, o fluxo biológico, trazido pelo avançar da idade, provoca depressão, muito comum em pessoas da terceira idade; isso ocorre pois há uma percepção enrijecida de si mesmo, “e aí pelo próprio desenvolvimento natural do corpo, já não se pode ser mais ‘aquela’ pessoa; a vida perde o sentido. Então, uma boa iniciativa para viver bem a terceira idade é investir no conhecimento de si, relatando e exercitando todas as emoções.” orienta a psicóloga.
Uma vida realmente feliz
Não se trata de não ser positivo, mas de validar como nos sentimos a cada momento mesmo quando não estamos bem. Aceitar e aprender a lidar com todas as emoções é passo fundamental para lidar com as situações da vida, sendo elas difíceis ou não; todas as emoções são válidas, reais e autênticas. Assim, permitindo os sentimentos e ajustando as emoções, é possível ser mais saudável emocionalmente e mais feliz, consequentemente.
Janeiro Branco
O Janeiro Branco é dedicado a colocar os temas da “Saúde Mental” em evidência na sociedade, chamando a atenção dos indivíduos e das instituições sociais para as questões emocionais, comportamentais e subjetivos dos seres humanos. Acesse o site oficial da Campanha.