Por Julyanna Santos 08.04.2021
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Muitas famílias, em algum momento do envelhecimento dos seus entes, passam a discutir como será o cuidado, principalmente quando a pessoa idosa passa a requerer atenção mais frequente e especializada, seja pelo agravamento de doenças ou pelo envelhecimento natural do corpo.
A decisão de ter um cuidador em casa, em tempo integral, provoca, geralmente, muitas discussões. Isso porque muitas famílias não têm condições financeiras para arcar com a contratação de um profissional e acabam por decidir ministrar o cuidado.
Para cuidar do outro é preciso ter paciência, tempo disponível e entender as mudanças na rotina, provocadas por um nível de atenção quase exclusiva. Embora possa ser gratificante, é necessário estar atento a uma condição conhecida como estresse do cuidador, ou seja, uma tensão emocional decorrente do cuidado. O estresse do cuidador causa irritação, frustração, tristeza e falta de perspectiva é o diagnóstico, algumas vezes, pode ser dado pelo próprio médico ou especialista que cuida do idoso.
Muitos cuidadores deixam de realizar suas atividades do dia a dia como trabalhar, não se alimentam corretamente, dormem pouco e passam por muito estresse.
O dia a dia do cuidar, inclui fazer a higiene pessoal, levar ao médico, administrar inúmeros remédios, preparar a alimentação e inúmeros outros afazeres, exigem muita dedicação —às vezes por longos anos.
Vera Lucia da Silva Barbosa é cuidadora de idosos há mais de 15 anos. Vera escolheu a profissão de cuidadora, embora sua formação inicial tenha sido em Direito. “Comecei cuidando da minha mãezinha, como a maioria das famílias; minha mãe percebeu que eu tinha essa vocação para o cuidado. Sou cuidadora por uma escolha minha; eu gosto de cuidar, gosto de estar com o paciente, de lidar com as pessoas. É assim que eu sou e me reconheço!”
Cuidando de um idoso de 93 anos, ela conta que a rotina, às vezes provoca estresse, mas que coloca o idoso em primeiro lugar: “Se eu tiver estressada, eu não serei uma profissional como quero ser e como sou todos os dias.” Por isso, indica algumas posturas importantes para quem está no cuidado, seja de algum parente idoso, seja atuando profissionalmente na área.
“Eu gosto muito de escutar música com o meu idoso; trabalho com conversa, com leitura e vou fazendo isso até na minha casa, pois vou cuidando de mim. Tudo que eu faço eu gosto. Em casa, cuido das minhas plantas, assisto um bom filme; leio a Bíblia, peço discernimento, sabedoria e, acima de tudo, peço paciência para lidar com os idosos e as pessoas de maneira geral.”
Para Vera, é importante que o cuidador busque ter uma vida ativa, não deixando de lado sua vida pessoal e suas pequenas alegrias cotidianas. “Na medida do possível, crie rotinas que lhe dão prazer e bem-estar e, quando sentir que as coisas não vão bem, não tenha dúvida: procure ajuda!”
Ela indica, ainda, que o cuidador procure fazer capacitações, “pois conhecendo a fisiologia do corpo, você despende menos energia e atua de forma mais assertiva e, consequentemente, menos desgastante.”
Saiba mais
Em dez anos, os cuidadores de idosos passaram de 5.263 profissionais, em 2007, para 34.051, em 2017. Um aumento de 547%, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No entanto, a profissão ainda não é regulamentada.
A tendência para o crescimento de profissões ligadas a idosos acompanha o envelhecimento da população brasileira. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua do IBGE, no fim de 2020 havia 39 milhões de pessoas no Brasil com 60 anos ou mais, o que representa 18,4% da população.