Por Julyanna Santos 27.05.2021
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O envelhecimento está associado a mudanças nos processos biológicos, fisiológicos, psicológicos, comportamentais e sociais do ser humano. Como em todas as fases da vida, algumas mudanças são positivas e outras resultam, naturalmente, na diminuição das atividades cotidianas e no aumento da suscetibilidade e frequência de doenças, fragilidades ou incapacidades. Envelhecer, no entanto, não é mais sinônimo de decadência, como se pensava antigamente.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo pesquisa realizada em 2018, o Brasil possui cerca de 28 milhões de idosos. O aumento, significativo do índice populacional, exige um novo olhar no acompanhamento e no tratamento da pessoa idosa.
Políticas públicas, como é o caso do Projeto Fortaleza Cidade Amiga do Idoso, um projeto do Núcleo de Produções Culturais (Nuproce) em co-gestão com a Prefeitura de Fortaleza, são fundamentais para que esses indivíduos tenham um envelhecimento saudável e ativo, e que possam estar, cada vez mais, integrados a sociedade. Além disso, fisioterapeutas, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, e outros profissionais da saúde, possuem papel importante no bem-estar e na qualidade de vida dos idosos.
Sandro Calefi, enfermeiro há 17 anos, é Mestre em Saúde da Família e Especialista em Envelhecimento e Saúde do Idoso, ele é o convidado do Programa 6.0, do próximo sábado, dia 29 de maio. Em seu projeto, intitulado EnvelheciTUDE, ele atende, em consultório, pessoas que estão na 3ª idade, ou que estão entrando nessa fase da vida, familiares e cuidadores.
Ele concedeu entrevista para o Portal Fortaleza Cidade Amiga do Idoso sobre o tema. Confira:
Portal Fortaleza Amiga do Idoso – A pessoa idosa é normalmente associada a decadência e incapacidade. No entanto, isso, aos poucos, tem mudado. Como minimizar esse preconceito?
Sandro Calefi – Muitas vezes a mídia, filmes e novelas veiculam a imagem do idoso à doenças, incapacidades, isolamento e doenças, como por exemplo quando os vinculam à propagandas de farmácias, remédios e hospitais. Até mesmo em placas de identificação de prioridades sempre usam a imagem de um idoso encurvado e de bengala. Esse estereótipo reforça a imagem decadente e incapacitante do envelhecimento. É necessário que passemos a valorizar o envelhecimento ativo, visto que, cerca de 2/3 dos idosos são ativos e independentes.
Discutir o envelhecimento na comunidade, reforçar que ele é um processo natural de qualquer ser vivo, inserir o idoso nos convívios familiares e sociais, entender que envelhecer não é sinônimo de adoecer significa fazer valer os direitos dos idosos propostos pelas políticas públicas como inicio do processo para minimizar o preconceito contra o idoso.
Portal Fortaleza Amiga do Idoso – Para que o idoso seja autônomo, o que ele e a família devem considerar no momento de incentivar essa independência?
Sandro Calefi – Inicialmente reconhecer sua funcionalidade, que é sua capacidade em desenvolver atividades cotidianas sem risco. Em seguida, entender suas necessidades e desejos na vida comunitária e familiar, adaptar realidades, casa e contextos para que ele possa se manter motivado a participar de suas decisões e autocuidado. Muitas vezes, na intenção de cuidar bem, a família acaba realizando muitas ações e tomando decisões que o idoso é capaz de fazer, limitando-o, dessa forma, nas suas atividades de vida diária e autonomia. O primeiro passo é conhecer as potencialidades e limitações para que seja discutido os papeis do idoso e da família no seu processo de autocuidado, para assim, avaliar adaptações ao processo. Sempre recomendo: faça “com” e não “para” o idoso.
Portal Fortaleza Amiga do Idoso – Quais as ferramentas e o que o enfermeiro pode fazer na condução de um envelhecimento mais autônomo?
Sandro Calefi – O papel do Enfermeiro na saúde do idoso é gerenciamento, rastreio e monitoramento contínuo da sua funcionalidade e capacidades de autogestão de vida, além de propor o plano de cuidados individualizado e pactuado com ele sua família, ser o articulador entre eles e o restante da equipe de saúde de referência. Para isso, usamos escalas e instrumentos da Gerontologia e Geriatria sensíveis à percepção das capacidades cognitiva, física, social, emocional e de suporte às suas demandas. Através dos resultados dessas escalas e da escuta ativa, empatia e comunicação não violenta, conseguimos definir metas e ações de cuidados ao idoso conjuntamente.
Portal Fortaleza Amiga do Idoso – Quais os maiores desafios enfrentados pelo enfermeiro no cuidado ao idoso?
Sandro Calefi – Na minha prática, percebo que a dificuldade da auto-aceitação do processo de envelhecer é um elemento que limita a busca por ajuda. A ideia de dar “um jeitinho” em tudo é um desafio para a qualidade do autocuidado, seguido pelas recomendações empíricas e sem embasamento sobre como cuidar e gerenciar a saúde do idoso.
Muitas vezes as crenças e valores de vida que os idosos trazem podem ser obstáculos que nos exige muita articulação, flexibilidade e empatia no momento de sua abordagem. Posso ainda complementar que, a desinformação e recusa do envelhecimento por parte da família e a ideia de que toda dor, dificuldade ou disfunção sejam “normais” no idoso, “teimosia” ou “coisa de velho”, acabam dificultando a estratégia do cuidado do idoso.
Portal Fortaleza Amiga do Idoso – Como é o trabalho de Consultor em Envelhecimento Saudável e Longevidade?
Sandro Calefi – A Consultoria em Envelhecimento e Longevidade é voltada ao atendimento de idosos e suas famílias, para auxiliá-los na resolução de demandas trazidas pelo processo de envelhecer, instrumentalizar o cuidado e nortear o que pode ser feito para manutenção da qualidade de vida e saúde tanto do idoso, quanto de quem participa do seu processo de cuidado. Ela acontece por meio da Consulta Sistematizada de Enfermagem Gerontológica para rastreio de capacidades funcionais, potencialização do autocuidado, mentoria sobre gestão do envelhecimento e elaboração do plano assistencial. Pode acontecer tanto no meu Consultório quanto na casa do idoso. Na consulta utilizo os instrumentos Gerontológicos para avaliação global das dimensões da saúde do idoso, avaliação da segurança da casa, mapeamento da rede de suporte social, arranjo familiar para o cuidado e estímulo à autorresponsabilidade do idoso e de sua família, através da pactuação de metas e ações.
Portal Fortaleza Amiga do Idoso – Por que é importante ensinar e fomentar o conhecimento na área de envelhecimento?
Sandro Calefi – A principal razão é o crescente envelhecimento populacional que o Brasil se encontra. Cuidar do envelhecimento e saber como fazê-lo impacta diretamente na longevidade com saúde e redução dos custos previdenciários e com nosso sistema de saúde. A cortina que adorna esse processo é a valorização do idoso na sociedade e sua participação ativa na vida comunitária. Entender que o envelhecer ultrapassa o domínio biológico, nos permite cuidar do campo emocional, social, espiritual e financeiro para a nossa própria velhice. Afinal, só não envelhece quem morre jovem, e é na juventude que começamos a desenhar como será nossa terceira idade. É importante que seja pensado como desejamos envelhecer e como nos enxergamos daqui a 20, 30 ou 40 anos se continuarmos com os hábitos e comportamentos que mantemos hoje. Envelhecer exige atitude e o momento é agora!
Para conhecer o trabalho de Sandro Calefi visite o site: www.envelhecitude.com e siga o Instagram: @enf.sandrocalefi
(73) 99987-3126 / (27) 99246-7582
Sandro Calefi participou do Programa Fortaleza 6.0 do último sábado (29). Confira a entrevista completa: